• Perspectivas temporais e regionais da insegurança alimentar durante a crise econômica em Portugal, 2011-2013 Dossier: Health Geography in Knowledge Crossover

    Gregório, Maria João; Graça, Pedro; Costa, Andreia; Nogueira, Paulo Jorge

    Resumo em Português:

    As questões da insegurança alimentar (IA) têm merecido uma atenção crescente nos últimos anos, mesmo nos países desenvolvidos, considerando a tendência crescente dos indicadores de pobreza e de desigualdades sociais, em resultado da crise económica global. A implementação de um sistema de monitorização da IA tornou-se uma prioridade das políticas de alimentação e nutrição. Este estudo pretende avaliar as tendências da IA durante a crise económica em Portugal, identificando possíveis iniquidades regionais. Os dados analisados provêm de três inquéritos conduzidos pela Direção-Geral da Saúde, referentes à IA da população portuguesa, durante o período em que Portugal esteve sob intervenção do programa de assistência financeira do Fundo Monetário Internacional (2011-2013). Os dados foram recolhidos por entrevistas face-a-face e a IA avaliada através de uma escala psicométrica. Utilizaram-se modelos de regressão logística para identificar iniquidades regionais na IA. A prevalência de IA manteve-se relativamente inalterada, a nível nacional e regional, durante este período. Em 2013 verificou-se uma elevada prevalência de IA (50,7%) (33,4% IA leve, 10,1% IA moderada e 7,2% IA grave). Iniquidades regionais foram também encontradas para a IA. As regiões do Algarve e de Lisboa e Vale do Tejo foram as que apresentaram níveis de IA mais elevados, mesmo após ajuste para as variáveis socioeconómicas. Os níveis de IA em Portugal e as disparidades regionais encontradas sugerem a necessidade de implementar estratégias a nível regional, em particular nas regiões mais afetadas, envolvendo os diferentes sectores com capacidade interventiva (saúde, segurança social, autarquias, instituições locais na área da economia social).

    Resumo em Inglês:

    Food insecurity (FI) has received much attention in recent years, even in high-income countries, due to the increasing trend of poverty and social inequalities indicators, as a result of the global financial crisis. The establishment of a monitoring system of FI becomes a priority for food and nutrition policies. Our study aims to evaluate FI trends during the economic crisis in Portugal and to identify regional disparities throughout the country. Data derived from three surveys conducted by the Portuguese Directorate-General of Health, concerning FI of the Portuguese population, during the period that Portugal was under the International Monetary Fund financial assistance program (2011–2013). Data were collected by face-to-face interviews and FI was evaluated using a psychometric scale. Logistic regression models were used to identify regional disparities in FI. The prevalence of FI was relatively unchanged at national and regional levels, during the analysis period. Data from 2013 indicates a high prevalence of FI (50.7%), including 33.4% for low FI, 10.1% for moderate FI and 7.2% for severe FI. Disparities according health region were also found for household FI. Algarve, Lisboa and Vale do Tejo were the two regions with the highest levels of FI, even after controlling for other socioeconomic variables. High levels of FI found in Portugal and the different regional profiles suggest the need for regional strategies, in particular in the most affected regions based on a broader action with different policy sectors (health, social security, municipalities and local institutions in the field of social economy).
  • Efeito da distância na acessibilidade aos serviços de urgência em Portugal Dossier: Health Geography in Knowledge Crossover

    Vaz, Sofia; Ramos, Pedro; Santana, Paula

    Resumo em Português:

    Foi demonstrado que a distância (entre a residência e a unidade de saúde) que os pacientes têm de vencer influencia a procura/utilização de vários serviços de saúde. O nosso estudo analisa esse efeito na utilização dos Serviços de Urgência (SU) em Portugal. O trabalho foi desenvolvido tendo por base estudos anteriores, considerando a gravidade dos atendimentos de urgência, o tipo de SU, e um conjunto de outras variáveis que, segundo a literatura, têm demonstrado influenciar a utilização dos SU. Os resultados permitem concluir que os valores de elasticidade distância-procura de cuidados de saúde de urgência variam entre -1 e -2 (um aumento de 10% na distância ao SU resulta numa diminuição de 10-20% na utilização do SU), verificando-se que a procura de baixa gravidade se associa aos valores mais elevados de elasticidade-distância, sendo o inverso verdadeiro. Também se evidencia que os Cuidados de Saúde Primários (CSP) e, particularmente, uma nova tipologia de centros de saúde em Portugal, afetam negativamente a utilização dos SU: pacientes com oferta de CSP próximo da sua residência revelam menor utilização dos SU. Este estudo coloca em evidência o contributo da distância nas restrições orçamentárias que os pacientes enfrentam quando procuram cuidados de saúde.

    Resumo em Inglês:

    Distance patients have to travel has shown to influence demand for several health services. Our work looks at this effect on the utilization of Emergency Departments (ED) in Portugal. We build upon previous works by taking into account both the severity of emergency visits and the type of ED and by including a set of other variables that have shown to influence ED utilization. Overall, we find distance-elasticity for emergency care that ranges from -1 to -2 (a 10% increase in distance to ED results in a 10-20% decrease in ED utilization), with low-severity demand having the highest distance-elasticity and high-severity demand the lowest. We also show that Primary Health Care, and particularly some new typology of health centers in Portugal, negatively affects ED utilization. Our results provide evidence that distance enters in the budget constraints patients face when seeking health care.
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. Associação Paulista de Saúde Pública. SP - Brazil
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